O rabo de bugio

História contada pela Neli, com redação minha. Coloquem-se no lugar dela, acostumada a ver o pai bater no irmãozinho mais novo, o Vicente no caso.

Foi lá por maio de 1967, o pai estava cortando rama de mandioca na lavoura lá do fundo, não lembro onde o Toni e o João estavam. A mãe pediu para mim e o Vicente ir buscar batata na roça para cozinhar para o almoço. Aí nós pegamos um saco de linhagem e uma enxada e fomos. O batatal ficava na várzea na lavoura que ficava depois do potreiro. Enquanto arrancávamos as batatas podíamos ver o pai trabalhando na roça lá em cima do morro, aí o Vicente falou que o pai tinha xingado ele. Eu tinha dó dele porque o pai sempre xingava por qualquer coisinha, ele também apanhava muito.
Quando estávamos voltando para casa tinha um trecho da estrada que eram dois trilhos por onde passava a carroça e o resto era coberto de capim, que estava bem alto. O Vicente disse que ia amarrar os capins para o pai tropeçar quando passasse por lá. Eu fiquei quieta, não gostava das artes do Vicente, mas também não gostava de ver ele apanhando, e ele foi amarrando os capins de um lado com o outro dos trilhos.
Chagamos em casa e fomos brincar, e quando foi perto do meio dia que o pai veio para almoçar ele tropeçou nos capins e rebentou uma das varizes que ele tinha na perna e não parava mais de sair sangue. Ele chegou em casa já bem mal, aí a mãe fez curativo e conseguiu fazer parar o sangue. Nós estávamos brincando no quarto quando ele disse que queria falar com o Vicente, porque ele tinha visto de lá de cima que nós tínhamos passado por lá.
Aí eu fechei a porta do quarto e fiquei segurando e tranquei a tramela. Aí o pai batia na porta e queria que eu abrisse, mas eu tinha dó do Vicente e não queria vê-lo apanhar. Eu não abri a porta, então o pai pegou o facão e enfiou na fresta da porta e abriu a tramela, eu ainda tentei segurar a porta, mas o pai tinha mais força. Quando o Vicente viu que o pai tinha aberto a tramela, pulou a janela e se foi pro mato aí só fiquei eu no quarto. Quando o pai entrou e me viu, ele disse que eu estava acobertando as artes do meu irmão, e como ele tinha fugido eu é que ia apanhar uma surra com a vara de rabo de bugio.
Até hoje ainda me dói as varadas, mas apesar disso não fiquei com raiva, aprendi a não acobertar os erros dos outros, pois agora sei que era o jeito deles de educar.