Achiles Piovesan
Nasceu aos 08 de agosto de 1924, na linha Bom Retiro em Nova Palma. Foi Batizado em 09 de agosto de 1924 sendo seus padrinhos Guido Piovesan e Marcelina Savengnago. Segundo relatos de Thereza, Achiles era uma linda criança da qual mamãe sentia orgulho quando as comadres diziam: “ma que bel bambin, con i capelli ricci” (que nenê lindo com os cabelos encaracolados).
Estudou até o 3° ano na escola Cândida Zasso, sendo ela mesma sua professora. Thereza conta que o Achiles cuidava dos irmãos e ajudava em casa.
Conta o Luiz Zanon, o Bio, 87 anos:
– “Os nossos divertimentos, quando crianças, era fazer carretos, descer correndo e quando chegávamos perto da cerca de arame farpado nos abaixávamos rápido para não pegar o pescoço, era perigoso, mas nós não nos dávamos conta, queríamos nos divertir. Eu e Achiles gostávamos de assustar quem estava pescando então nós nos escondíamos e depois começávamos a arrancar tocos e matos para fazer barulho e assustar. Quem estava aí saía correndo e iam embora com medo, e assim nós acabávamos com a pescaria deles e nós, escondidos, riamos vendo eles correrem “espaurai” (assustados). Também nós íamos muito de domingo na casa do tio Antônio para tomar vinho, cantar, comer pinhão… Saíamos de lá “tutti tchuchi” (todos bêbados).
Achiles entrou para o tiro de guerra número 397 no dia 03 de outubro de 1941, juntamente com 44 outros rapazes sendo seu instrutor o segundo sargento Heruth Erichsen. Foi treinado na comunidade de Linha Sete em Nova Palma. Em 14 de abril de 1941 presta compromisso a Bandeira, solenemente perante o conselho deliberativo, recebendo o certificado de reservista de segunda categoria com nota 5,0. O apelido dele no quartel era “soldado perau”, graças a sua inabalável seriedade.
Eram uma família de agricultores e Achiles, juntamente com seu irmão Lino, lidava com bois, arrastava madeira e lavrava para vizinhos e amigos para ganhar dinheiro.
Pierina e Achiles já se conheciam, pois eram moradores de um mesmo povoado. Num domingo, Achiles como bom católico, foi numa missa no sítio de baixo (uma das comunidades de Faxinal do Soturno) e ao retornar com Angelim Buzanello, que namorava Adélia Irmã de Pierina, foi convidado pelo amigo para ir junto, ficando até à tardinha conversando com ela. O namoro começou realmente numa festa em São João dos Mellos (Distrito de Júlio de Castilhos) onde Achiles mandou cinco bilhetes de tômbola com seu nome tendo um retorno positivo de Pierina, que após dizer sim, teve companhia em seu retorno para casa.
Namoraram por quatro anos até que no meio do namoro houve uma interrupção de um ano, devido um mal entendido e fofocas que diziam que Achiles não era trabalhador e que seu pai era ruim com sua esposa. Com isso, Pierina acabou o namoro e Achiles chorou muito. Durante este ano ele não perdeu nem uma missa, rezando para ter Pierina de volta, mas sempre saía muito cedo para não a encontrar e ficar sofrendo mais do que já estava, e em contrapartida Pierina ficou muito triste e preocupada por não o ver, com medo que tivesse acontecido alguma coisa.
Como eles tinham uma afilhada em comum que Pierina criava, pois a mãe da criança havia morrido, eles acabaram se encontrando em um dado momento, quando Achiles fez uma visita à menina e Pierina foi mostrar a criança. Tempos mais tarde Pierina descobriu que tudo não passou de fofoca. Foi então que finalmente voltaram a conversar e Achiles começou a frequentar a sua casa novamente. No casamento de sua Irmã Adélia dançaram a primeira valsa juntos.
A primeira e única vez que Pierina foi à casa de sua sogra antes do casamento, foi com sua irmã Adélia para conhecer Odila, irmã de Achiles. Na ocasião, Pierina foi convidada para ser madrinha de crisma de Odila junto com Achiles.
Um ano antes de Achiles e Pierina casarem-se foram fazer um retiro no Santuário da Mãe Três Vezes Admirável de Schaenstatt em Santa Maria e após o casamento foram outra vez, segundo Pierina eram momentos de graça e preparação para enfrentar a vida. O retiro era fechado, não podia se falar nada, nem na hora do recreio, que neste momento íamos ao santuário rezar de novo. Segundo Pierina, a família de Achiles era muito unida e de uma fé fervorosa.

Foto oficial do casamento com os padrinhos
Achiles casou-se com Pierina Amábile Rossato em 01 de junho 1949. Nascida em 28 de novembro de 1928 no Rincão dos Fréus, Nova Palma, filha de José Justo Rossato e Maria Izabel Piovesan. E deste enlace tiveram os seguintes filhos: Antônio José, Maria Isabel, João Francisco, Neli Terezinha, Vicente Celestino, Carmelita Inês, Guiomar Lourdes, Fernando Mariano, Célia Regina, Paulo, Éfren, Luis, Carlos Alberto, Mário Aurélio, Edmundo e Marcos.
O vestido de noiva de Pierina foi confeccionado por Maria Coradini e a cozinheira e doceira foi Angelina Rogia. Ficaram na ocasião por 15 dias fazendo às bolachas, cucas etc. O Casamento foi realizado pelo Padre João Zanella. No dia do casamento foi servido o café aos convidados na casa da noiva. Saíram a cavalo para a cerimônia na Igreja de Nova Palma, onde se realizaria o casamento. Os cavalos que levaram os noivos a igreja foram contratados de Albino Vestena, para conduzir os noivos até a igreja e posteriormente até a casa do noivo.
Como tinha dado uma enchente muito grande, as pessoas passaram pela pinguela levando os aperos dos cavalos que cruzaram a nado. O selim de veludo da noiva era novo e vermelho, e por sorte não molhou. Ao meio dia houve almoço na casa do noivo, churrasco de gado e porco, cuca, galinha recheada etc.
Logo após o casamento receberam vários convites para serem padrinhos, mas ficaram preocupados, pois não tinham recursos para dar presentes. Neste tempo em que moraram na casa de Antônio batizaram cinco afilhados que são eles: João Vestena, Nelci Binotto, Helena Piovesan, Luisa Binotto e Nair Rossato.
Depois de 4 meses morando com os pais de Achiles, foram procurados pelos donos da usina Franciscana para irem trabalhar lá. Ganhavam um salário de 700 reis e além disso, vendiam peixes e queijo na cidade, principalmente para o Pe. João Zanella.
Quando chegou época de Antônio nascer, em julho de 1950, a Pierina ficou na lavoura até o escurecer, cobrindo com enxada o trigo que ficara descoberto quando Achiles semeava e passava o arado. Pierina falou então para o marido:
– Vou para casa que não tô boa.
– Eu vou também – falou Achiles.
– Acho que esta noite tu vais ter que correr. (Chamar a parteira).
Em casa encontravam-se o cunhado Pio e Almerindo Bellé, que tinham ido armar o espinhel (barbante com anzóis pendurados com isca).
A Pierina fez a janta e se deitou, então Achiles falou:
– Pio, acho que tu tens que ir para casa chamar a mãe porque a Pierina não tá bem.
Enquanto isso Achiles foi pegar o cavalo, que ficava de prontidão naqueles dias, amarrado num palanque, para ir chamar a parteira (…isso acontecia muitas vezes). Ao procurar o cavalo, este havia arrancado o buçal e fugido. Precisou procurá–lo por um tempo antes de encontrar, ajeitar e finalmente sair. No caminho já encontrou a mãe que vinha esbaforida…
– Apura mãe que a Pierina ficou sozinha.
Ao chegar, Elizabeth se deu de cara com a cena: A Pierina desmaiada, branca como cera, não respondia aos chamados. Elizabeth por experiência e intuição, pegou um vidro de álcool e deu para Pierina cheirar… Ao sentir o cheiro Pierina voltou a si, se dando conta de que havia gente… Nisso a parteira chegou a tempo de só aparar o garoto que já estava nascendo. A criança nasceu roxa, não chorava, e a parteira então fez os costumeiros rituais para reanimar o menino… Ele chorou! Está vivo!
Durante os quase 4 anos em que trabalharam na usina, além do Antônio, tiveram os seguintes filhos: Maria Izabel (06/08/1951), João Francisco (08/02/1953) e Neli Terezinha (08/04/1954).
Devido aos muitos perigos que havia para as crianças na usina, começaram a pensar em sair e no ano de 1932, começou-se a fazer propaganda de uma terra nova que oferecia melhores condições de vida em Jaboticaba, localizada a noroeste do Rio Grande do Sul. No ano de 1945 a 1950, mais famílias migraram para lá, não só de Nova Palma, mas também de outras partes do Rio Grande do Sul.
Em março de 1954, Atílio Zanon, Irmão de Elizabeth, mãe de Achiles, que morava em Jaboticaba foi visitar os parentes em Nova Palma, e conversou com seu sobrinho Achiles que na época voltou a morar com Antônio seu pai, ficando por três meses, na espera de terras à venda; e combinaram uma visita.
Achiles foi à Jaboticaba ver as terras e visitou várias áreas, mas se interessou por uma que era de propriedade de Atílio Zanon, por que ficava na beira de um rio e disse: – Nasci perto e quero continuar vivendo perto do rio – Se não fosse esta área ele não viria. Custou na época quatro mil réis sendo paga em dois anos, somente com a colheita de trigo.
Emigraram para Jaboticaba em 25 de junho de 1954, tendo vendido todos os animais para Albino Vestena e comprando uma vaca de leite de Carolina Marin. Carregaram sua mudança e os animais (cavalo Alazão, vaca e uma junta de bois, Osco e Pequeno); o caminhão era de Bruno Pippi.
Antes de saírem tiveram que levar a sua filha Maria Izabel ao médico, pois seu dedo do pé estava doendo.
Saíram às 22 horas de Nova Palma e chegaram à Jaboticaba às 14 horas do dia seguinte, ainda não tinha asfalto em Júlio de Castilhos. Baixou uma neblina muito forte então o motorista disse: – Vamos parar até levantar a neblina – Pierina foi descansar e Achiles cuidou dos animais. Nesta viagem Antônio acompanhou seu filho. Ao chegar à Jaboticaba havia cinco carroças esperando para fazer o transporte até a linha Braga, onde seria a residência. Antônio desceu na primeira carroça para conhecer o lugar, na medida em que iam carregando e descendo, Achiles e Pierina cuidavam das crianças e os animais. Na última carroça Aquiles ia à frente e Pierina ia tocando a vaca e os bois com a Neli de três meses no colo.
As crianças quando encontraram seu Nôno Antônio, que havia descido na primeira carroça, correram e se abraçaram pedindo para que ele as levasse para casa, pois o local era estranho, foi triste a separação. Antônio pegou uma carona com o mesmo caminhão que o trouxe, pois ia carregar madeira na vila Trentin para Nova Palma.
Além de buscar um futuro melhor para sua família, outro motivo para mudarem para Jaboticaba era para formar um coro na igreja, pois não havia quem cuidasse dessa parte. Logo que chegaram, começaram a participar da comunidade, cantando nas missas, esta que, às vezes, por tradição também era cantada em Latim. A Pierina conta que tinha aprendido a missa em latim e quando eles iam cantar nas festas ela ficava em casa, com vontade de estar juntos com os cantores. Mas ficava só na vontade.
Então quando migraram, fundaram um coro misto para cantar nas missas. No início eram sete homens e cinco mulheres. Então ensinaram a tal da missa em latim para os cantores. O Achiles ensinou a voz dos homens e a Pierina a voz das mulheres. A capela era de madeira e tinha a “cantoria” – tipo mezanino onde ficavam os cantores.
Neste ano de 1954, a vaca e um dos bois da canga morreram. Então Albino Schiavinatto fez uma proposta, ele envergaria as terras e em contrapartida Achiles faria o açúcar para ele. Também em nome da amizade, Bortolo Schiavinatto, pai do Albino, emprestou leite para dar as crianças, que mais tarde quando compraram uma vaca devolveram o leite, uma vez por semana, para poder fazer queijo.
Em 17/12/1955 nasceu Vicente Celestino, o primeiro palmeirense (Jaboticaba era distrito de Palmeira das Missões). Depois dele veio a Carmelita Inês (17/07/1957). Quando ela estava para nascer e estava tendo dificuldade, a parteira já havia dado duas injeções e não poderia dar a terceira, então Pierina fez uma promessa para que se tudo desse certo no parto, caso fosse menina, iria dar todo apoio para ser freira, assim como se fosse menino da mesma forma, para ser padre.
Em 28/10/1958 nasceu Guiomar Lourdes e em 30/05/1960 nasceu o Fernando Mariano, que recebeu esse nome porque veio ao mundo no primeiro dia que a Capelinha de Nossa Senhora de Fátima chegou à casa. Depois dele veio a Célia Regina em 07/09/1961.
Em 1962, foi fundada a paróquia de Jaboticaba, Achiles fazia parte da equipe que trabalhou para que a paróquia viesse se estabelecer na cidade. Continuou auxiliando em vários trabalhos pastorais como de animação vocacional e curso de noivos, em quem falava sobre o tema da paternidade responsável.
Em 18/06/1964 nasceram os gêmeos Paulo e Éfren, o segundo faleceu com 48 horas de vida, por conta de uma malformação no cérebro.
No dia 13/11/1965 veio a falecer a Maria Izabel, diagnosticada com Leucemia. Começou a manifestar sua doença, quando tinham ano e meio a sentir uma dor na ponta do dedão e o médico disse que era urticária, que eram vergões que iam se manifestando cada vez mais pelo corpo. Trocou os remédios e ela passou bem por dois anos. Daí os sintomas começaram a aparecer de novo. Nesta época não existia exames, então a saída encontrada foi às bulas de remédios anteriores que ela havia tomado, foi encaminhada para Frederico Westphalen, Passo Fundo, Caiçara, Palmeira das Missões e Cruz alta sem melhorar. Foi encaminhada, por fim, para a Santa Casa em Porto Alegre, ali ficando por dois anos, vindo para casa três vezes por ano para pegar Sol e comer fruta principalmente abacate.
Mariazinha ficava aos cuidados das Irmãs do Jesus crucificado e por médicos que gostavam muito dela. Quando estava bem, ajudava as outras pessoas que estavam enfermas e não conseguiam comer sozinhas e dizia que se ficasse curada seria Irmã. Na última crise de Mariazinha, fizeram uma junta médica, operaram no joelho e viram que não havia sangue e que ela estava muito mal. Avisaram a família e então Achiles saiu para ir a Porto Alegre, mas em Palmeiras das Missões ligou para lá e avisaram que ela tinha falecido. Conseguiu uma ambulância e foi buscá-la, juntamente com Odila, que era juvenista na época, mais Nair Câmara freira de Jaboticaba que já haviam preparado os documentos. Porém tiveram muita dificuldade para removê-la do Hospital, tiveram que alugar um carro fúnebre para levarem até a saída da cidade. Morreu aos 14 anos de leucemia. As freiras a vestiram de irmã, o que foi muito criticado por algumas pessoas da comunidade, mas devido sua dedicação e boas ações para com os doentes foi reconhecida pela congregação.
Depois disso veio o nascimento dos seguintes filhos: Luís (02/05/1966), Carlos Alberto (12/11/1967), Mário Aurélio (14/12/1969), Edmundo (29/09/1971) e Marcos (16/04/1974).
A religiosidade sempre foi muito presente aos filhos, em primeiro lugar os pais davam o exemplo, rezando o terço todas as noites. Inclusive, pode-se observar que o nome de todos os seus filhos, ou era de algum Santo, ou de algum Padre que tivesse trabalhado no lugar.
Em 01 de junho de 1974, aconteceu na residência de Achiles e Pierina a comemoração das suas Bodas de Prata, com a celebração da missa e posteriormente um almoço com churrasco, risoto, porco assado, galinha assada, cuca, vinho e guaraná de garrafa.
Segundo relatos de seus filhos, esta festa foi um momento de muita expectativa, pois viria um ônibus de parentes de Nova Palma com os quais eles pouco conviviam, além disso, os preparativos iniciaram com antecedência como a limpeza ao redor da casa e do porão onde todos os festejos aconteceram.
O pessoal de Nova Palma foi com um ônibus Alfa Romeo, onde se juntou a família de Achiles e de Pierina. O ônibus, que pertencia a Benjamim Piovesan, saiu de nova Palma na noite anterior a festa chegando em Jaboticaba ao amanhecer. Tomaram o café da manhã na residência de Achiles, mais ou menos umas 30 pessoas. Houve missa na matriz e um almoço na residência do casal. A turma ficou até o domingo para pernoitar e se dividiram entre as casas de Achiles, Aurélio e Atílio Zanon.

Foto da família por ocasião das Bodas de prata. Ao fundo, da esquerda para a direita: Antônio, Neli, João, Carmelita, Vicente, Guiomar e Fernando. Na fila da frente: Célia, Carlos Alberto, Antônio, Elisabeth, Paulo, Pierina com Marcos no colo, Edmundo, Achiles, Mário e Luís.
Segundo os registros do livro tombo da Paróquia de Jaboticaba, em 09 de janeiro de 1975, Achiles, foi o primeiro leigo a receber o mandato de Ministro de Eucaristia na Paróquia de Jaboticaba e também na Diocese de Frederico Westphalen, juntamente com mais duas irmãs religiosas. Como ministro em uma ocasião em que Padre Theodoro “perdeu” sua voz, Achiles visitou juntamente com o Padre, todas as capelas da referida paróquia, o que durou um mês.
Em 24/08/1978, quando Mário, Paulo e o Carlos Alberto estavam indo para a escola de carona no trator do vizinho, em uma curva da estrada, por um descuido do motorista o trator tombou. O Mário, na época com 8 anos, estava sentado no paralamas do trator e com o forte impacto veio a falecer. Uma perda repentina e muito difícil para a família.
Um ano mais tarde, em 1979, Achiles começou a construção de um chiqueirão e criação de porcos os que mais tarde, no ano de 1981 foi implantado um biodigestor – dispositivo onde ocorre a digestão anaeróbica dos dejetos. As bactérias são as principais responsáveis pela degradação da matéria orgânica e produção de biogás. Fezes de suínos, aves e bovinos são excelentes matérias primas para a produção de energia. Essa inovação veio a ser muito útil, pois na época na residência da família não havia ainda energia elétrica. Esta técnica Achiles aprendeu em um dos muitos cursos que ele participava, sempre preocupado em uma agricultura sustentável.
Foi sócio fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeiras das Missões, sócio fundador da Copalma de Palmeiras das Missões e da Credipalma.
Ao longo de sua vida em Jaboticaba, criou a sua fama de castrador nas redondezas. Sabia castrar touros, potros, cadelas, porcas e cachaços; e quando castrava touros, levava os testiculos para casa para comer com a família. Organizava sua agenda com base no tempo e na fase da Lua e fazia um roteiro por onde precisavam de seus serviços e com isso conseguia trazer algum dinheiro a mais para a casa. No entanto, por ter um coração grande, quando fazia o trabalho para uma família mais pobre, fazia sem cobrar.
A saída de casa dos filhos mais velhos, era um momento marcante para a família, pois não se tinha notícias muito seguido, pois estas vinham por carta. Depois de passar pelo quartel, Antônio o filho mais velho, em 1979 saiu para fazer curso Técnico de Educação Rural em Tapera. Achiles sempre quis encaminhar seus filhos para os estudos e para o conhecimento.
Apesar da numerosa família, Achiles e Pierina estavam abertos para uma nova filha. Ela foi adotada de uma família vizinha bastante pobre e que julgavam não ter condições de criá-la. Marli nasceu em 04 de março de 1980.
Uma história lembrada pelos filhos era de que Achiles, mais ou menos uma vez por semana, assumia o posto de doceiro para fazer uma receita especial de um doce à base de açúcar de cana e leite. Preparava sua receita, colocava em uma bandeja e “escondia” em cima do seu roupeiro. As crianças (ao redor de 14 anos), iam pé por pé até o quarto enquanto o pai dormia, para se deliciarem com o doce. Ele não chegava realmente a esconder a bandeja, pois guardava em um lugar de fácil acesso para os filhos, mas mesmo percebendo que a sobremesa havia evaporado, fazia de conta que não percebia.
Tinha muito orgulho dos filhos cantores e tocadores de violão, sempre que chegava uma visita de mais longe, ele entrava na casa, pegava o violão e entregava à um dos filhos para que mostrassem seus talentos. Aliás, esse mesmo violão tem uma história muito interessante. Certa ocasião a dona Pierina ouviu dizer que a sua vizinha, dona Fiorentina Bueno tinha um violão e queria vendê-lo. Sabendo disso, a Pierina foi atrás de fazer o brique com a proposta de duas galinhas em troca do violão. A sua vizinha aceitou e foi a partir daí que esse violão veio a fazer parte da história da família. Outra história referente a isso é a da primeira gaita. Quando o Achiles já estava doente, em uma visita de Abel, entregou a ele uma quantia de dinheiro e o encarregou de trazer uma gaita de Nova Palma. A gaita Todeschini branca veio então parar na família Piovesan e com ela o Marcos aprendeu a tocar.
Em outubro de 1985, Achiles começou apresentar problemas respiratórios. Tentaram um tratamento, e foi detectado câncer no pulmão. Ficou lutando pela sua reabilitação por 15 meses, mas veio a falecer em 12 de janeiro de 1987. Sua esposa Pierina relata que nos últimos dias de vida de Achiles, ele a chamou para conversar, pedindo para que sentasse no lado dele e pegando sua mão começou a dar as últimas recomendações, pois percebia que seu tempo não era muito entre eles, pediram-se perdão, e também perdão a Deus por alguma coisa errada que fizeram na vida.
Nos abraçamos e beijamos – conta a Pierina. Então Pierina falou de suas preocupações de quem iria cuidá-la e Achiles respondeu: – Não diga isso, com tantos filhos que você criou eles não vão te abandonar, confie neles.
No dia seguinte veio a falecer acompanhado pela esposa, filhos e sua mãe.
Como chovia muito o velório não pode ser realizado na casa da família, como se costumava fazer antigamente. Foi realizado no centro de Pastoral com a presença de muitas pessoas, as irmãs da Congregação do Amor Divino, a comunidade, os padres, parentes de longe e isso ajudou a consolar a família com muitas orações. Foi realizada três missas durante o velório e depois missa concelebrada por 7 sacerdotes e o bispo Dom Bruno Maldaner.
Nos registros do livro tombo da Paróquia de Jaboticaba o Padre Mário Marzari, então Pároco, realizou a seguinte anotação: “Nossa comunidade ficou mais pobre com a morte do Senhor Achiles Piovesan. Durante sua vida foi sempre um pai exemplar, um membro ativo e Ministro Extraordinário da Eucaristia.” Pode-se perceber que ele não pôde assistir aos Votos Perpétuos de sua filha Carmelita como Irmã religiosa das filhas do Amor Divino, que aconteceu em 01 de fevereiro do mesmo ano, logo após seu falecimento.
Em 10 de setembro de 1998, morre Carlos Alberto, ainda solteiro, que ao colocar uma propaganda política num poste de iluminação acabou por se encostar no fio e caiu eletrocutado. Foi criticado na época por algumas pessoas do município, mas era alguém que acreditava num mundo melhor. Numa das coroas, em seu velório, estava escrito a seguinte frase: “É mais digno morrer lutando, do que calar-se diante da injustiça.”
Posteriormente, no ano de 2020, o Fernando foi diagnosticado com câncer cerebral. Durante o período de seu tratamento, lutou por sua recuperação deixando uma lição de força e coragem. Quando perguntavam a ele como estava, sempre dizia que estava ótimo.
Durante o tratamento, em meio a pandemia do coronavírus, contraiu a doença e em 23/05/2021 veio a falecer em decorrência da COVID-19. O Fernando era uma pessoa muito especial, de um coração imenso e marcado pela ternura, pois apesar de todas as dificuldades que surgiram na vida, jamais deixou abalar o seu carinho e afeto com todos.