De posse desta maravilha da tecnologia, o Lino começou a se aventurar cada vez mais longe, não chegou a fazer uma viagem como o primo, mas com certeza rodou muitos e muitos quilômetros com a bicicleta. Tornou-se quase rotina visitar os tios de Frederico Wesphalen, ficava pouco mais de 40 quilômetros. Visitar os amigos no Varejão ou no Mundo Novo ficou muito mais fácil, e é claro encomendar botas de trabalho, os famosos coturnos que ele sempre usava, lá na Guabiroba do sapateiro Zandoná.
Aqui é preciso fazer um parêntesis, a tal bicicleta tinha um sistema de freio muito usado na época o “torpedo” que só é possível de usar em bicicleta sem marchas e funciona no próprio pedal girando-o para trás, é muito prático e seguro por frear a roda traseira.
Numa destas viagens até o Zandoná todo correu bem até a chegada à sapataria, feita a encomenda precisava pegar o caminho de volta, mas não foi muito longe e aconteceu um problema mecânico, a correia (corrente) rebentou e com ela a possibilidade de subir lomba também. Não podemos nos esquecer que isto não era problema, pois o Lino estava acostumado às bicicletas de pau que não tinham pedal, assim a viagem de volta seria tranquila. Bicicleta com pneus, rolamentos e bem leve ia que era uma beleza, pegava velocidade na descida e subia quase toda a ladeira do outro lado com a embalada. Tudo ia muito bem até a lombinha antes do seu Luiz Moreira, como era um pouco mais forte a bicicleta não subiu, mas isto não era problema, faltava pouco mais de um quilômetro pra chegar.

Sobre uma imagem do Google, tracei o que era a estrada naqueles tempos. A descida do seu Luiz Moreira té o chatinho do tio Luis foi muito usada alguns anos mais tarde para descermos de carro de lomba.
Passando o seu Luiz a estrada começava numa ladeira leve de uns trezentos metros, depois uma curva leve a esquerda e ficava mais forte uns cem metros e finalmente tinha uns cinquenta metros bem mais acentuada, aí vinha o “chatinho do tio Luís” uns duzentos metros de estrada plana, uma subidinha de uns cinquenta metros, curva a direita e o “direitão do tio Luís”, mais uns quatrocentos metros levemente em declive, depois a “subidinha do seu Artur”, aclive acentuado de uns quarenta metros, depois uma descida acentuada com curva acentuada à esquerda no final, mais uma subidinha e estava em casa.
Quem estava acostumado a descer este trajeto de bicicleta de pau, sabia que só precisaria empurrar a bicicleta talvez uns duzentos metros, assim o Lino, assim que passou a casa do seu Luiz Moreira, deu um impulso e montou a magrela que começou a ganhar velocidade lomba abaixo, e foi ganhando velocidade, e ganhando velocidade, chegou ao fim da ladeira, venceu todo o chatinho, a subidinha do tio Luis chegou no direitão e nem sinal de diminuir a velocidade, uma verdadeira maravilha, e que adrenalina, a velocidade começou a aumentar de novo no direitão e foi aí que o piloto se deu conta que não podia pedalar… e nem frear…
– Meu Deus! – depois do direitão tinha uma lombinha de nada, depois uma descida forte e uma curva, não ia dar pra fazer a curva naquela velocidade, mais alguns segundos e tinha que tomar uma decisão, felizmente a bicicleta perdeu um pouco a velocidade na subida e o piloto se jogou no chão…
Meio esfolado, mas vivo, chegou em casa, depois de uns dez minutos empurrando a bicicleta, os dois foram parara na oficina na segunda-feira.
Este episódio é fundamental para entender porque ele ganhou o apelido carinhoso de “Tio Lino.” Até qualquer hora.