Odila Lurdes Piovesan.
Nascida em 06 de novembro de 1946 em Bom retiro. Foi Batizada em 07 de novembro de 1946 sendo seus padrinhos Benjamim Piovesan e Olanda Aléssio. Entrou no convento no dia 02 de fevereiro de 1973 em Gravatai e egressou em 02 de fevereiro de 1976. Casou-se com Fernando Grispin Biazzeto Santos em 05 de janeiro de 1979 na igreja Nossa Senhora da Gloria em Porto Alegre.
Passou-se quase 6 anos e mamãe engravidou novamente (tinha sofrido um aborto espontâneo neste meio tempo). Quando a gravidez seguia seu curso , mamãe engordou e não serviam mais os vestidos para ir a missa, naquela época não se expunham o recato fazia parte do respeito a nova vida que vinha chegando. Então papai comprou um tecido estampado: saia e bata e ele dizia aos amigos: –“Varda La me vecchia que bela que la zê, someia um legoro” ela estava com 45 anos … e nasceu a rapa do tacho, diziam. E como escolher o nome? Ganhou dois: Odila Lourdes! Nós outros irmãos, ficávamos contentes porque tínhamos mais um bebê – até seus 4 ou 5 anos vivia mais no colo dos irmãos do que no chão, e lhes faziam muitas vontades, e ela sabia aproveita-se desta “fraqueza” dos irmãos. Sempre que tinham um dinheirinho compravam presentes. Até chupeta (bico) trouxeram um para agradar e mamãe dizia: –“Valtri la costume male e dopo vedaremo que persona viem a éssere”, já que os outros filhos não tiveram as mesmas regalias.
O Pio tinha na época uma “maquina fotográfica” – “bisonhava tirargue ritrato” e la zé uma bela bambina. “Um dia mamãe disse que eu lhe ensinasse as orações e cuidasse dela. Era ela esperta e inteligente, e aprendia facilmente, e também me fazia tantas perguntas sobre qualquer assunto que lhe viesse a mente curiosa. Eu procurava responder certo, conforme meus parcos conhecimento e saberes daquela época .
Recordo um episodio pitoresco: Certo dia papai e mamãe foram “in paese” e voltariam a tardinha, após colher os ovos nos ninhos, separar os terneiros, dar comida aos porcos e fazer fogo “no fogolaro”, tendo antes rachado e cortado lenha, fui dar banho na Odila. Procurei fazer como via minha mãe fazer, porém ela já tinha 3 meses. Eu achei que estava fazendo o “máximo”, após o banho, coloquei a fralda “panezei” e enfaixei bem apertadinha para ficar esticada reta, ficava em pé sem dobrar os joelhos, bonito de se ver. Quando mamãe chegou riu ao ver o nenê como um “socol”, como um presunto ensacado, e me disse que já não precisava mais enfaixar que estava grande. (Thereza Piovesan)
A nossa infância foi muito humilde, mas sempre tivemos bons exemplos, tínhamos que ir à escola, quando a aula era à tarde, o pessoal ia trabalhar bem cedo e mais tarde a gente ia levar a “marenda”-Polenta brustolada, peixe frito, fortaia, queijo e café com leite. Não tenho certeza se era café ou matto com late. O Abel era aquele da polenta e leite. Me lembro que ele ganhou do tio Celeste um “canecoto” esmaltado de presente de casamento, para saborear o seu prato favorito.
Falando em escola, eu comecei a frequentar as aulas do Pio, mas só olhava as figuras dos livros. Quem me alfabetizou foi a Thereza. Ela às vezes me botava de castigo, porque eu sempre tinha assunto, e então, falava pelos cotovelos… Eu gostava de ir com o Pio, porque ele me levava na garupa da bicicleta. Só nos dias das “sabatinas” eu tinha que ir a pé porque ele levava materiais, livros, sei lá.
A gente se vestia de maneira muito simples: na escola era “aventalão” por cima da roupa- um tipo guarda-pó, com o nome da escola bordado, não tínhamos calçado, pelo menos não lembro. Sei que quando cresci mais, tipo adolescente, já tinha uns gurizotes que queriam “vir junto” isto é, acompanhar principalmente nos domingos, depois do terço. Eu ficava com vergonha porque sentia que era chato estar de pés descalços…
Quanto a roupa de “festa” como a mãe dizia, lembro que o pai ia na venda, do Canzian ou do Grotto, e comprava tudo da mesma peça; se era liso o tecido, ele pegava uns tons parecidos, ou estampados semelhantes. Havia também os mascates que vendiam de casa em casa os “faldos”, assim a gente falava, de roupas. A gente não tinha muita escolha e ficava bem contente por ter ganhado uma roupa nova. Quem costurava os modelitos era a Thereza.
Calçados? Bom, eu estava na quarta série em Nova Palma no colégio das irmãs e ficava envergonhada com o barulho dos tamancos, aqueles com solado de madeira, porque acho que eu já tinha o senso do ridículo. Depois ganhei uma “sete vidas” que era uma alpargata com sola de borracha. Como “gue tenhea de conto”- cuidava pra que durasse bastante. Aos domingos, a gente quando tinha sapatos, ia de pé ao chão até o Rio Portela e lá lavava os pés, secava com um paninho que a gente escondia no mato e colocava os sapatos para ir à missa. Na volta, se fazia o inverso: chegava ao Portela, tirava os sapatos e ia de pé no chão até em casa.
Quero falar agora da minha primeira comunhão. Foi numa época em que havia ocorrido uma enchente daquelas em que a ponte se fora… O único lugar para passar era pelo rio, que estava ainda razoavelmente alto. Para passar só a cavalo e não havia barragem ainda. Então, provavelmente por perceberem que o tempo estava ainda pra chuva, a mãe e a Angelina do Joaquim combinaram de ir a Nova Palma na sexta-feira anterior ao dia da primeira comunhão. Lembro de nós passando pelo rio alto, montadas nos cavalos, nas garupas, bem agarradas nas nossas mães. A Lorena era a filha da Angelina. Que alegria, ir passear! Recordo vagamente que dormimos em casa de parentes, nós fomos ao Tio Benjamim que era meu padrinho de batismo. No domingo a tarde começamos a viagem de volta. Havia chovido muito e o rio estava cheio. Claro que a essas alturas, deveríamos voltar a pé. Passamos provavelmente pela ponte do Antero e subimos pelo rincão de Santo Antonio fazendo a volta por cima, lá pelo Tio Beppi. Era uma caminhada e tanto. Eu tinha na época menos de 6 anos. Mas era tanta alegria, imagina, tínhamos bolachinhas – aquelas de polvilho – doces, isto é balas, íamos olhando as flores na beira da estrada e também algum ninho de passarinhos. E nossas mães junto. Nem sentimos a caminhada: Quando chegamos na altura da capela pelo outro lado, estavam os homens jogando bochas na cancha. Guardo essa lembrança: o pai, ao nos ver, largou as bochas, o jogo e veio direto ao nosso encontro. Abaixou-se e passou os braços ao redor de mim e disse emocionado: Hoje tu recebeu o Jesus…Eu estava meio sem graça, mas percebi lágrimas nos olhos dele…
Penso que herdamos algo bem significativo dos pais: seu amor pelas coisas de Deus. Jamais era tolerada uma falta de responsabilidade em relação igreja, compromissos, ensaios. Tínhamos um amor por tudo isso! Acho bem adequado aquele verso de Provérbios que diz: O JUSTO ANDA NA SUA INTEGRIDADE; FELIZES LHE SÃO OS FILHOS DEPOIS DELE (Pv.20,7)
Que linda hitória,bom demais ver e ler meu sobrenome nesses relatos >Parabéns.