Arquivo mensais:janeiro 2021

Enfim, carne…

A grande motivação que iniciou a aventura do Leonildo, do Natalício e do Adélio foi a possibilidade de estudar Geologia na Unisinos. Mal sabiam eles que a cidade não via com muito bons olhos um alemão, um gringo e um negro juntos, mas a historia de hoje não tem nada a ver com isso, mas isso foi o que levou os três a alugar a casa do Astor e fundar a primeira república livre na cidade. Fundada em 1975… deixa pra lá, outro dia contaremos a história.

Já era 1977, mais precisamente na saída do inverno quando os bichos começam os rituais de acasalamento. Eu, ainda seminarista morando em Santa Isabel começava a arrastar a asa para uma catequista da paróquia. Calma! Isto é uma história de família. Nesta época a tia Odila, recém saída do convento estava a namorar, e como faz parte desse ritual tem que ir integrando o escolhido na família, assim eu também tinha esta obrigação. A família mais próxima que tínhamos no momento era o Leonildo e seus colegas em são Leopoldo. Foi então que decidimos a Catia, a tia Odila, o Fernando e eu fazermos uma visita à república. E assim começou a jornada…

Como o “tio” Fernando estava já motorizado nesta época combinamos nos encontrar na rua da Azenha, a Catia e eu iriamos de ônibus até lá e de lá para São Leopoldo de fusca. Assim de forma bem tranquila chegamos ao nosso destino.

O ecônomo, que sempre conduzia com mão de ferro as finanças da casa, neste dia liberou verba para a compra da carne e assim enquanto batíamos papo na cozinha, com a porta trancada porque fazia um frio do cão, o assador se aquecia numa churrasqueira improvisada do lado do banheiro, que era do lado de fora da casa. Enquanto a carne ia adquirindo cor e sabor, dentro da casa, além do papo animado foram preparadas saladas, cozido arroz e outros acompanhamentos. Por ser dia de festa tinha até refrigerante, se não me engano.

Só o Natalício ficou de fora, cumprindo a nobre missão de assador. De vez em quando alguém botava a cara fora da porta e perguntava se já estava pronto. Diante da resposta negativa a porta se fechava e o Natal permanecia na companhia apenas das brasas e do churrasco, sem contar com o ventinho cortante. Ah! Por falar em cortante, ele tinha uma faca e um garfo, como convém a um assador que se preze. Não demorou muito e foi anunciado que o churrasco estava pronto, o Natalício trouxe aquela maravilha e dispôs numa bandeja sobre a mesa. Mais tarde, quando me mudei para a república descobri porque a carne era algo tão especial.

Curiosamente o assador não veio se sentar à mesa, continuou vigiando as brasas. Na sala a conversa pra lá de animada, todos falando de seus feitos e sonhos, bem como é de praxe em encontros de família, afinal era uma oportunidade para apresentar os novos integrantes. Até que em algum momento, quase no fim da refeição, a tia Odila sentiu falta de um franguinho, pois não se dava muito bem com carne vermelha. Ai ela se dirigiu ao dono da casa, o Leonildo neste caso, e pediu com uma finura e gentileza características:
– Será que não tem um franguinho?
O Leonildo saiu na porta e repassou o pedido para o Assador. Não demorou muito apareceu ele na porta com um espeto com uma coxa e sobrecoxa de frango.
– Ainda tem este. – sentenciou.
– Mas e o resto? – indagou o Leonildo.
-Ah! Eu fui beliscando enquanto assava. – respondeu o Natalício.