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Posts relativos à família de Ignes Piovesan

Sventolon

Algumas máquinas a gente nunca esquece, em especial as que fazem barulho, giram em alta velocidade e fazem mágicas. Do meu avô Trentin lembro de três, O rebolo movido a pedal que tinha polias para aumentar a velocidade, a máquina de debulhar milho e o ventilador para separar grãos, separava por vento o componente menos denso de uma mistura formada por sólidos de diferentes densidades. Exemplo: separar a palha do grão de feijão.

Cada detalhe do sventolon tinha seu propósito, o eixo da manivela tinha umas ranhuras, uns valinhos… Ah! o eixo ficava no fundo de um reservatório com as laterais inclinadas de forma que o produto ali colocado deslizasse para o fundo onde estava o eixo, as ranhuras do eixo iam derrubando o produto, neste caso feijão com palha, aos poucos, mas esta não é a parte mais fascinante do mecanismo, até porque não se vê. 

Por fora tem uma enorme engrenagem de madeira com dentes meticulosamente talhados que toca outra engrenagem, muito menor presa ao eixo do vento. Este, quadrado dentro da máquina, tem quatro pás de madeira leve e fina que giram livremente dentro de uma câmara arredondada. Do outro lado da engrenagem o eixo esta preso a uma travessa com o mancal e tem buracos por onde se podem ver as pás, quando está parado. Quando gira só se ouve o uuu… do vento entrando. Logo abaixo do eixo da manivela, aquele que tem ranhuras, uma fresta deixa escapar o vento com bastante pressão.

Assim que o mecanismo atinge uma certa velocidade começa a cair feijão com palha, aí o vento sopra as palhas pra longe, fazendo uma poeira infernal, deixando cair o feijão limpinho no recipiente abaixo. Parecia uma mágica ou não, deixa-me ver era mágica de verdade, pelo menos esta é a opinião do menino Maurício que está, com a irmã Isabel, passando uns dias de férias na casa do vô.

Férias na casa do nono

Criançada de férias na casa dos nonos.

Na casa dos avós tudo é mágico, tem aqueles mecanismos de ir enrolando o fumo de corda que parece uma corda preta. De tempos em tempos tem que desenrolar de um rolo e ir apertando e enrolando noutro, até ficar bem firme e curado para fazer os palheiros, como os da história da Gusta Bertola. O maquinário era interessante mas não chegava a ser mágico, magico mesmo era o sventolon.

O nono levava até a sombra das laranjeiras, (até tinha uma história que a nona teria caído uma vez delas quando subira para colher frutas par as crianças, mas não temos mais dados da história) lá, quase fora do terreiro instalava a máquina mágica e começava a girar a manivela mágica. Aí fazia um ruído que parecia um temporal, acho que era o redemoinho do saci, aí saia uma poeira danada e depois ele tirava de baixo da caixa mágica uma lata de feijão preto limpinho.

Se o vô faz mágica porque o neto também não pode fazer? Foi assim que o Maurício pensou. Lá foi ele girar a manivela mágica, e não é que fazia a ventania igualzinho o nono, só não fez a poeira e nem saiu feijão por baixo, até depois de soltar a manivela continuava a girar. Era mágico mesmo, mas alguma coisa estava errada. O uuu do vento continuava, mas olhando pelos buracos não se via as pás, foi aí que ele resolveu conferir e enfiou o dedo. Ui! Não saiu feijão mas começou sair sangue do dedo. Aí a mágica aconteceu, todos correram para ele, pegaram no colo, cuidaram e principalmente fizeram um belo curativo.

De recordação ficou uma cicatriz e a história pra contar pros netos quando eles vierem visitar a casa mágica do vô.

 

Primeira visita ao tio Bellé

O ano escolar ainda não tinha terminado no seminário do Braga, mas como eu sempre tinha boas notas e era por um motivo nobre, participar da primeira missa do Padre Reinaldo Piovesan, ganhei férias antecipadas. Tendo o Tio Achiles como guia e patrocinador, tomamos o ônibus para Nova Palma, era a primeira vez que eu ia para aquelas bandas. Ia conhecer um monte de primos que só conhecia por fotografia, os do tio Abel e Pio, e outros que conhecia só de nome, os da tia Ignes e da tia Maria. Vajamos na sexta-feira de tarde para chegar a Júlio de Castilhos, pernoitar e ir no sábado para Nova Palma para a missa solene do domingo.

Naquele tempo (como dizia o padre Guilherme velho quando começava o sermão, “in illo tempore”) não tinha celular, nem telefone, nem muitas outras coisas das quais somos dependentes hoje, e consequentemente não tinha como avisar as pessoas que estávamos chegando.  E foi assim que aconteceu começou a escurecer e ainda estávamos longe de Julio, eu estava muito inquieto mesmo estando com o tio que conhecia a cidade, mas, segundo ele, não lembrava bem onde tinha que descer. Descemos antes dos trilhos e voltamos um pouco, não sei se era de verdade ou se ele estava fazendo de conta pra me assustar, só sei que não estava reconhecendo a casa, até que chegamos numa casa perto de um monte de ferro velho, já era tarde da noite.

Eles cederam a própria cama aos visitantes cansados...

Eles cederam a própria cama aos visitantes cansados…

Batemos na porta e ouvimos uns ruídos característicos de quem está acordando não muito contente de ser acordado àquela hora, aberta a porta, os donos da casa se desfizeram em sorrisos e abraços de boas vindas. A tia preparou alguma coisa para comermos enquanto o tio Achiles contava as novidades de Jaboticaba e o tio Arlindo as de Júlio de Castilhos. Tomamos um belo banho para remover a poeira da estrada e aí é que veio a grande surpresa: o tio e a tia nos deram a sua cama para dormirmos, pois estávamos cansados da viagem.

No outro dia de manhã o tio nos mostrou a horta, o ferro velho e depois a cidade, demos uma passadinha no tio Eugênio, no tio Fernande Trentin e finalmente ele nos deixou na rodoviária onde íamos tomar o ônibus para Nova Palma.

O resto da história conto outro dia…