Um baile e tanto

Creio que esta foi a última foto tirada do casal. em julho de 1976.

Creio que esta foi a última foto tirada do casal, em julho de 1976.

Foi numas férias de julho, mais precisamente em julho de 1976, saí de Viamão, onde estudava, e resolvi ir para Jaboticaba por um caminho não tradicional, dar uma passadinha em Nova Palma para visitar os tios e os avós. Foi nesta ocasião que tirei a famosa foto do nono e da nona na frente da casa velha. Cheguei à Nova Palma na quarta-feira e comecei a visitar os tios tendo como base a casa do nono. Fiz uma série de caminhadas até o Bom Retiro e de volta, fui até a tia Eulália andei bastante pra lá e pra cá, com o Tarcísio e o Inácio e planejamos ir a um baile na noite de sábado com os guris do tio Pio e a Cecília, para isso nos reuniríamos na casa do tio Pio, e depois do Baile, o Inácio e eu iriamos dormir na casa da tia Eulália.

Tudo correu maravilhosamente bem até a hora da janta, todos reunidos contando piadas e histórias, o tio Pio participou bastante. Logo depois “el ga deto que gavea fredo” e foi para a cama, nós também tínhamos frio mas estávamos em volta do fogão.

Resolvemos esperar um pouco para não chegar ao baile muito cedo. Foi um tempo de descontração digno de uma reunião de nossos pais, fico imaginando que não seria diferente se estivessem reunidos o Pio, o Lino e o Abel. Muitas histórias deste livro com certeza tiveram origem em reuniões como essa, ou como foi a do velório do tio Pio, que infelizmente não pude participar, mas prometo que vou colher depoimentos para escrever.
Sei que alguns me perguntarão:

– O que tem a ver uma história de um baile com a de um velório?

– Tem tudo a ver. Respondo eu, quando se trata de um grupo de Piovesan. Vocês já viram um Piovesan calado? Especialmente de for um descendente do Toni.

Voltemos ao assunto inicial, o tio e a tia já tinham ido dormir e o grupo do baile mais os pequenos do tio Pio, ficamos ao redor do fogão contando histórias, para dar um tempo antes de ir ao baile. Passadas algumas horas os menores não resistiram e se recolheram para a cama, já era umas 10 horas da noite e nós continuamos com as piadas e histórias. Pelas 11 horas alguém falou:

– Vamos sair?

Não lembro bem, mas acho que foi a Cecília que abriu a porta e olhou para fora e falou:

– Faz um frio danado.

Fechamos a porta e continuamos ao redor do fogo, mais fogo, mais histórias mais risadas bem ao estilo Piovesan. Ainda era cedo para ir ao baile, poderíamos dar mais um tempo. Passada mais uma hora, mais ou menos, lembramos de novo o propósito de nossa reunião: Ir ao baile. Levantamos e fomos, em massa, para a porta agora estava na hora. Fazia um luar lindo, o céu estava límpido e muito claro, uma noite fantástica para sair se não fosse um probleminha, olhamos para o chão e estava tudo muito claro, branco de geada. Fizemos rapidamente uma assembleia geral e decidimos que não era uma hora adequada para sair de perto do fogo. Voltamos para o calor do fogão a lenha que aquecia o ambiente. Como a assembleia é soberana decidimos continuar a contar histórias e assim foi até lá pelas duas da madrugada quando terminou a lenha: – E agora, o que fazer? Buscar lenha na rua nem pensar, catamos até o último graveto disponível, a lenha terminara, mas não os assuntos. Foi aí que alguém teve a brilhante ideia de queimar as cadeiras, só que teríamos que sentar no chão, definitivamente não era uma boa ideia. Mas numa família de marceneiros não faltaram novas ideias e a que saiu vencedora foi a de queimar os degraus das cadeiras, depois eles poderiam ser repostos. E assim foi a noite até o último degrau de cadeira e o fogo apagou em definitivo. Não tínhamos mais saída, ou ir ao baile ou ir dormir. Aí começou o drama para o Inácio e eu. Nós iriamos dormir lá na tia Eulália que ficava mais perto do que o Bom Retiro mesmo assim com aquele frio “de renguear cusco” não tivemos coragem para sair de casa. A família de acolhida deu um jeito: colocaram-nos a dormir nos pés da cama dos pequenos, que afinal não ocupavam toda a cama mesmo.
Assim terminamos aquela maravilhosa noite de baile.