O Trator

Dentre todas as maravilhas tecnológicas que povoaram a vida dos Piovesan certamente não pode faltar o Trator, aqui escrito em maiúscula por se tratar de um trator de verdade, não um tratorzinho qualquer.

O transporte de produtos, objetos pesados e pessoas sempre foi prerrogativa dos bois e da velha gaiota, quando precisava mais velocidade de deslocamento era a Lavareda, a égua tostada, que assumia a tarefa, quando precisava velocidade para um grupo de pessoas ou muitos objetos mais leves, a função era outorgada à carroça e aos cavalos tordilhos do Bôrtolo. Estes últimos, em geral eram os responsáveis pelas viagens de compras, outro assunto palpitante, mas hoje o assunto é o trator, que de certa forma veio substituir todos os outros com algumas vantagens.

O trator se transformou num faz tudo da sociedade. Aqui vemos ao fundo a moenda acionada pelo trator.

O trator se transformou num faz tudo da sociedade. Aqui vemos ao fundo a moenda acionada pelo trator.

A família já estava mecanizada, arar a terra e transportar pessoas e coisas agora já era tarefa do trator, que desenvolvia velocidades astronômicas.

A sociedade com o Marcelino Piovesan Dalbianco, primo distante e cunhado, melhorou bastante o trabalho e possibilitou desenvolvimento e mecanização ainda maiores. Foi comprada a colheitadeira automotriz John Deere (Jandira), (outra história para contar, a Reforma) para facilitar a colheita.

O trator fazendo a semeadura

O trator fazendo a semeadura

Hoje é o dia do trator, mas não pode ser contada esta sua história sem falar na colheitadeira, recém comprada, usada, caindo aos pedaços, mas trabalhando. Ela trabalhava um bocado de tempo e enchia o depósito graneleiro, aí se encostava o trator com o carroção do lado e se descarregava o soja que era ensacado para comercialização, mas tinha uns probleminhas. O descarregador do graneleiro não encaixava muito bem e tinha que alguém ficar segurando, isso não era problema pois não faltava mão de obra.

A John Deere (Jandira)

A John Deere (Jandira)

Normalmente no final do dia para facilitar a última carga do graneleiro era descarregada em casa, neste caso na casa do tio Marcelino. O trator e o carroção estavam a postos na frente da casa, no terreiro, o Léo, motorista da colheitadeira, já ia chegando quando o Lino, tratorista oficial, saltou do trator para ajudar a segurar o descarregador, o compadre Marcelino, do outro lado da colheitadeira, se preparava para segurar a alavanca do acionamento do descarregador.

Aqui precisa fazer um parênteses – O trator andava mal de bateria por isso ficou funcionando, travado é claro, ou não? – Veremos…

Três operavam na automotriz para o descarregamento enquanto o trator ficou sozinho, isso não era problema pois o terreiro era quase plano e o trator tinha freio. A operação descarga estava começando, motor do trator acionado em espera na lenta.

– Tup, tup, tup.

Motor da colheitaderia acelerado para fazer força.

– Brrrrrrrrrr!

– Clanc, clanc.

– Ok o carregador esta no ponto, acelera Léo, compadre pode acionar a alavanca!

– Grrrrr, ahhhhh!

Começou a cair o soja no carroção, que maravilha da tecnologia, o tempo da foicinha e da trilhadeira já eram parte do passado. Os grãos fluindo como uma cascata começam a formar uma pequena montanha no carroção, o trator avança um pouco para reposicionar o ponto de descarga…

– Compadre! Deu, senão o soja cai fora!

Espera aí! não tem ninguém no trator, e o Trator continua a se mover lentamente para frente.

– Pára compadre!

Nisso o Marcelino, que estava do outro lado da colheitadeira ouvindo aquela zoeira toda, ouviu a ordem e desativou a alavanca do carregamento. Os grãos pararam de fluir mas o trator não. Já começava a ganhar velocidade rumo ao potreiro e ao chiqueiro de porcos.

– Pára! Pára!

O trator não ouviu e seguiu seu caminho, os porcos que a esta altura já estavam pedindo comida vêem o trator se aproximar com uma carga de soja. O trator desobediente não ouve os gritos de – Páaaaare!  do tratorista e segue passando como um trator sobre o chiqueiro.

– Blam! Nhéééé! Crac! Tóiinn… – disseram o chiqueiro e o trator quando se encontraram.

– Quí, quíííí – gritaram os porcos correndo em direção ao banhado.

Vacinando o gado, ao fundo o açude e o banhado

Vacinando o gado, ao fundo o açude e o banhado

O trator ainda teve tempo de dizer cof! cof! antes de parar de vez.

Neste meio tempo a Jandira foi abandonada lá no terreiro e começou uma corrida de obstáculos. Léo, Marcelino, Lino, a tia e as crianças saíram em disparada para socorrer os porcos esparramados. Primeiro tinha que tirar o trator de lá, depois refazer as pressas o chiqueiro, depois catar os porcos esparramados. Alguns ainda corriam pelo potreiro, outros, os que foram em direção ao banhado estavam imobilizados pelo barro. Mas o mesmo barro que segurou os porcos também atolava os caçadores de porcos, foi uma aventura e já estava escurecendo…

Mas o pior de tudo é que depois, os porcos gritavam desesperados cada vez que ouviam o ruido do trator…