A foto original do autor encontra-se no Panoramio
Eu estava com 16 anos, e era a primeira vez que eu ia a Nova Palma, para a primeira missa do padre Reinaldo Piovesan, quis então aproveitar para conhecer os lugares de que a mãe e o pai nasceram, e não podia faltar Linha Base. E foi por isso que fui dormir na casa do tio Pio para acordar cedo na terça-feira para pegar o ônibus até linha base e ficar um dia na casa do tio David e tia Maria.
O sol ainda não tinha aparecido, em Nova Palma ele não costuma aparecer tão cedo, mas os galos da redondeza já tinham cantado bastante quando o visitante acordou meio sonolento e começou a sequencia de atividades programadas para o dia: acordar, tomar café, arrumar a mochila, se despedir dos tios e dos primos e sair apressadinho para a rodoviária, pois afinal ônibus não espera, mas estava em cima da hora e o café foi sacrificado, afinal o tio David não ia negar café para um sobrinho. Já estávamos dobrando a esquina perto da rodoviária quando o primo Tarcísio, que caminhava mais depressa avistou o dito cujo que já dobrava a esquina em direção a Linha Base. A solução era esperar o próximo horário, no outro dia de manhã.
De volta para casa surgiu a ideia de fazer o trajeto a pé, quando falamos para o tio Pio ele achou a ideia boa, afinal são apenas oito quilômetros, mas a tia Clementina achou que seria loucura fazer uma caminhada daquelas. Argumento daqui e dali, prós e contras analisados ficou decidido, o trajeto seria feito a pé, e para encurtar o caminho, o Tarcísio e eu iriamos subir o morro do Pelegrin e sair na estrada lá perto do Olivo Santi. Aí deu tempo para tomar café arrumar a mochila decentemente e saímos morro acima. (Esta viagem é uma história completa que vai ficar para outra oportunidade.)
Chegamos à casa do tio lá pelas 11 horas da manhã, como o Tarcísio era de casa simplesmente sumiu pelos potreiros, foi andar a cavalo, e não sei mais o quê. Eu só conhecia o tio e a tia então comecei a ser apresentado para um e para outro e a conversa durou até a hora do almoço. Depois do almoço o tio foi me mostrar as lavouras, o gado, os porcos e um pouco da redondeza. Foi quando pedi a ele se o tio Jorge Trentin morava perto, ele em disse que era bem pertinho e se eu quisesse até poderíamos ir lá. Não esperei ele terminar a frase e concordei, pois estava louco para conhecer mais aquele pedacinho de mundo. Já no final da tarde pegamos uma trilha que levava das lavouras dos Pegoraro às dos Trentin e não demorou muito estávamos lá. O tio Jorge e a tia Ângela nos receberam bem ao estilo dos Trentin, lamentando que não tivéssemos avisado para fazerem uma janta à altura das visitas. Outro contratempo é que os guris iam para o ensaio do coral e somente o casal ficaria em casa, o que não dava nem uma mesa de cinquilho, a solução seria trissete. Enquanto a tia fazia a polenta o tio Jorge apareceu com uma garrafa de champanhe para tomarmos como aperitivo, era um champanhe do ano passado que ele não conseguiu vender porque tinha ficado muito forte, a uva amadureceu demais, ficou com grau alcoólico muito alto. Era um champanhe seco que parecia ferver dentro da boca, estralava bolhinhas entre a língua e o céu da boca, confesso que não achei nada de errado.
Para a janta o tio trouxe mais uma garrafa de champanhe, depois enquanto jogávamos conversa fora, entre uma partida e outra de trissete, acho que tomamos mais umas quatro garrafas de champanhe. Já era quase meia noite quando os guris voltaram do ensaio, aí percebemos que já era hora de ir para casa, inda mais que eu tinha que tomar o ônibus para Júlio de Castilhos no outro dia. (onde fiquei dois dias na casa do Arlindo e da tia Inês, primos me cobrem e complementem esta história).
No caminho, apesar de estarmos os dois a chutar pedras, por conta do champanhe, iluminando o caminho com um tição em brasa que o tio ia sacudindo para alumiar o caminho, insisti com o tio que eu não poderia perder o ônibus no outro dia e que, se fosse necessário me jogasse um balde de água. Chegamos em casa e todos estavam dormindo, o tio me indicou o quarto, e eu caí na cama como uma pedra.
O sol já tinha dado o ar da graça, em Linha Base ele levanta cedo, o café já estava pronto, todo mundo tinha levantado, feito muito barulho, e eu continuava roncando. Não podia perder aquele ônibus, e o tio David muito consciente de sua responsabilidade de acordar o sobrinho, bateu a porta do quarto e como não obteve resposta, entrou. E agora – não é que ele continua a dormir como um anjinho – (Viu pelo menos enquanto durmo pareço um anjinho). Mas esta hora o ônibus já estava a caminho, o tio foi até a janela e abriu para deixar entrar a luz do sol e nada do sobrinho acordar. Algo deveria ser feito, foi aí que ele decidiu assumir sua função de despertador, foi até a cozinha serviu-se de um objeto e chegou na janela…
Chuá! Até que ele foi legal, só veio com uma caneca de água fria em lugar do balde que eu tinha pedido…
Vesti-me, lavei o rosto tomei café e desta vez não perdi o ônibus rumo a Júlio de Castilhos.