Tio David em Porto Alegre

Em função do acidente e por estar paraplégico o tio David tinha problemas de saúde, estava bastante debilitado e no ano de 1979, esteve internado na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Neste tempo ficou bastante só, pois a tia tinha que ficar em casa cuidando das crianças, e além da Tia Odila e eu não tinha outros parentes por aqui, quando descobrimos que ele estava internado a Catia, minha namorada, e eu fomos visita-lo, a Catia trabalhava em Porto Alegre, não muito longe da Santa Casa. Como eu morava em São Leopoldo somente podia visita-lo nos fins de semana então pedi para ela se poderia ir algum dia durante a semana, ela foi algumas vezes no intervalo do almoço, mas ficava muito apertado o tempo, pois o horário de visita não coincidia totalmente com o do almoço dela fazendo com que as visitas fossem muito curtas. Foi aí que ele pediu uma autorização para ela fazer visitas fora de hora, as enfermeiras concederam a ela uma autorização para visita-lo todos os dias no final da tarde ocasião em que podia ficar mais tempo.

A Catia sempre visitava ele no final da tarde.

A Catia sempre visitava ele no final da tarde.

Falando hoje com a Catia procuramos entender um pouco do que foi a vida dele por aqui. Segundo ela ele estava muito sentido, hoje diríamos em depressão, porque não podia mais fazer o trabalho da roça e sustentar a própria família. Uma de suas maiores inquietações era justamente não poder acompanhar o crescimento de seu filho menor, ele estava perdendo de ver seu desenvolvimento, não podia brincar com ele, e por estar longe sentia muita falta da família. Segundo a Catia “hoje eu entendo, o que ele sentia era depressão, naquela época não se falava disso, ele chorava muito e sentia muita falta da família, sempre demonstrava o carinho que sentia pelos filhos e pela tia, e quando eu chegava ele gostava de falar da vida, de quando trabalhava na lavoura, dos filhos e em especial do nenê. Às vezes pegava na minha mão e simplesmente ficava em silencio enquanto as lagrimas rolavam, outras vezes me abraçava efusivamente e falava da família, ria e parecia de bem com a vida.”

... as vezes riamos muito juntos vendo fotos e contando histórias da família e do trabalho. (Catia)

… as vezes riamos muito juntos vendo fotos e contando histórias da família e do trabalho. (Catia)

As vezes fico imaginando como ele deveria se sentir, acostumado a trabalhar, fazer serviço pesado, ficar preso a uma cadeira de rodas ou dentro de um hospital sem fazer nada deve ter sido angustiante, mais estranho ainda era ficar sem nenhum familiar por perto tendo apenas a namorada do sobrinho para visita-lo. Eu visitava ele nos fins de semana aí nós falávamos dos poucos bons momentos que tivemos juntos quando eu visitei ele em 1970, (a visita ao tio Jorge Trentin) Comigo ele sempre foi brincalhão, mesmo estando com a saúde debilitada nunca perdia o humor.

A última vez que me encontrei com ele.

A última vez que me encontrei com ele.

Quando ele deu alta e voltou para casa só ficou a saudade, por isso, quando nos casamos em maio, fizemos uma turnê pelo Rio Grande do Sul e fizemos questão de visitar o tio, foi a última vez que vi ele.

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