Il cigro de la vecchia Gusta Bertola

Algumas rotinas são diárias outras semanais, mensais ou até anuais, mas são sempre rotinas, ritos que se repetem indefinidamente sempre da mesma maneira. A “messa dominicale” da velha “Gusta Bertola” não era diferente, assim como os Piovesan de Toni, sempre iam para a primeira missa, a das oito horas, a vecchia Gusta Bertola ia para a segunda, as nove, ficava mais cômodo, não precisava levantar tão cedo, pois ela morava passando o Toni uns quatro quilômetros pro lado de São João. Depois quando ela voltava, passando o passo do Soturno, dava uma chegadinha na casa do Toni, que a esta altura já estava bebendo um copo de vinho e fumando um palheiro. Sempre tinha assunto para conversar e assim ela ficava pelo menos uma hora de conversa com o vizinho, e amigo do finado marido, mas não descia do cavalo, que ficava pisoteando e dando voltinhas.
Como isto já era uma rotina o Toni voltava da missa e arrastava uma cadeira para o terreiro e ficava na sombra da laranjeira esperando a amiga para conversar, fumando um palheiro e bebericando vinho, enquanto a nona preparava o almoço (il dinnare). A Ferruchia não tomava vinho, pelo menos aí não, pois acho que já era adepta do “se beber não dirija”. Chegava lá pelas 10 e meia e ficava mais ou menos uma hora conversando sobre os bichos, a plantação, o tempo e qualquer outro assunto que aparecesse até que lá pelas onze e meia a gurizada começava se aproximar da cozinha para almoçar. Então o nono a convidava para almoçar e ela agradecia e dizia que tinha que ir para casa que o almoço dela estava esperando, mas… se virava para o Lino, piazote de 14 ou 15 anos na época e pedia:
– Ció Lino fa-me um cigro?
O Lino pegava a brítola do pai, um pedaço de fumo e uma palha e fazia um cigarro de palha magistralmente. Exatamente como ela gostava, ia até a cozinha, acendia o cigarro no fogolaro, dava umas tragadas e levava para a Gusta Bertola, que agradecia e saia galopando o cavalo. Era uma rotina, e bem que o Lino gostava, pois era a oportunidade de dar umas tragadas no cigarro.
Imagine esta cena se repetindo um ano, dois ou mais. Podia combinar com a Gusta Bertola e talvez com o Toni, mas com o Lino eu duvido muito, no entanto a cena se repetia e se repetia… até que um dia…
O Toni arrastou a cadeira para a sombra, preparou seu palheiro, pegou o copo de vinho e ficou esperando. Chegou a Gusta Bertola, ficou conversando um tempão, foi convidada para almoçar, agradeceu e começou a procurar pelo Lino que não estava aí para fazer o palheiro. Desta vez foi o Toni que gritou:
– Lino zé hora de fare el cigro dea Gusta Bertola!
O Lino apareceu pegou a palha, o fumo e a brítola e se foi lá para cozinha fazer o cigarro de palha, passados alguns minutos veio com o cigarro aceso, alcançou para a vizinha que saiu a galope para casa. Talvez o Toni e a Gusta Bertola não tenham se dado conta, mas a rotina estava quebrada.
Passado um minuto, talvez nem isso, a Gusta Bertola estava de volta, bestemando de uma forma que não combinava nem um pouco com alguém que voltava da missa. Com os cabelos sapecados e umas manchas pretas no rosto. O Lino tinha colocado umas “dieze o dodeze teste de fuminanti” (cabeças de palitos de fósforo) no palheiro… Acho que foi uma das poucas vezes que o Toni perdeu a paciência com ele. O que nunca consegui descobrir é se, e quanto ele apanhou do nono. Afinal os dois gostavam de aprontar “dispetti”.

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