Pouco tempo depois da mudança aconteceu um fato que mudou nossas vidas, foi a chegada de um carro de lomba especial, que se tornou protagonista de muitas histórias. Mais uma vez um marceneiro influindo na nossa vida.
Muitas vezes a história exige que se faça alguma incursão pelos arredores, quando algum elemento externo começa a fazer parte do núcleo principal. Neste momento o elemento externo é o Antoninho Fikes Vaz, aprendiz de marceneiro na oficina do vovô Bortolo, filho de criação da tia Santina, irmã da Vó Maria. Pois não é que o Antoninho era bem criativo! Aprendendo, aprendendo, resolveu praticar o aprendido construindo um carro de lomba especial, em forma de caminhão, com direção ergonômica que movimentava apenas as pontas do eixo dianteiro, totalmente diferente dos carros de lomba tradicionais. Com rolamentos nas rodas, molejo feito de talas de guajuvira, freio acionado pelo pé, Cabine e carroceria imitando um Mercedes cara chata, lançado naquele ano de 1958. Era uma verdadeira joia de marcenaria, cabia dois na cabine e uns 15 na carroceria. Só que o aprendiz teve gastos e precisava praticar o desapego vendendo a sua criação. Como ninguém na vila tinha uma quantia razoável de dinheiro para desembolsar na compra de um carro de lomba, o Antoninho resolveu fazer uma rifa. Foi assim que naquele domingo de manhã o pai ao voltar da missa encontrou o marceneiro no bolicho do Vitelio Casarin, vendendo os três últimos números da rifa para fazer o sorteio.

Estacionado na frente do rancho o “carreto”, infelizmente não tenho foto melhor dele, esta foi recortada da foto da família, ampliada e retocada com Photoshop.
Naquele dia o pai deixou de beber o seu traguinho e gastou três cruzeiros com os números da rifa, um para cada filho, nunca fiquei sabendo qual o número sorteado, mas dizem que foi o meu. Assim, um pouco mais tarde do que de costume o pai chegou empurrando o “carreto”, como ficou conhecido. Vinha empurrando pela cabine e guiando com o braço enfiado pela janela da porta que não tinha vidro. Imediatamente começaram as aulas de direção e em poucos dias estávamos autorizados a dirigir o caminhãozinho na estrada. Não demorou muito e começou a peregrinação da criançada lá pra casa nos domingos, pra andar de carro lomba abaixo.
O trajeto tradicional compreendia um trecho de mais ou menos 500 metros, da casa do seu Luiz Moreira até o chatinho do tio Luís. Tinha uns 250 metros de declive suave, depois uma curva a esquerda e acentuava o declive, mais uma curva a esquerda e acentuava mais ainda, finalmente tinha uns 100 metros de plano e depois uma subidinha. No início do trajeto o motorista assumia seu posto com um auxiliar a gurizada dava o impulso inicial e pulava pra cima da carroceria, e começava a aventura. Nos primeiros cem metros a velocidade não tinha nada de emocionante, um guri correndo acompanhava, mas quando chegava próximo da primeira curva já estava a uns 15 Km/h e aí começava a aumentar. No final do terceiro trecho de declive creio que atingia uns 30 Km/h ou mais e os passageiros da carroceria faziam uma gritaria incrível, aí vinha o trecho plano onde a velocidade diminuía e parava na subidinha no fim do trecho. Aí se fazia a volta, um dos menorzinhos pegava a direção e a turma empurrava o caminhão lomba acima até a casa do seu Luiz Moreira e tudo recomeçava.
Mais tarde nos aventuramos a andar em outras lombas e até houve alguns acidentes bem interessantes. Mas o “carreto” foi o responsável pelo apelido do “Tio Lino” que vou contar qualquer hora… O trajeto aqui mencionado faz parte do trajeto de uma outra história, a segunda parte das aventuras da bicicleta do Padre João…