* Piovesans no RS.

A vinda da família Piovesan ao Rio Grande do Sul.

Na prática a italianada estava cansada de guerrinhas entre os donos das terras para os quais trabalhavam a meia e da fome que rondava suas vidas.

Cansados de trabalhar feito escravos para uma meia dúzia de ricos que vivia da renda que suas terras lhes proporcionavam e sabendo que ganhariam o dobro se estivessem trabalhando para si mesmos, não tiveram dúvidas quando foi oferecida a oportunidade de ter sua própria terra e independência financeira, que dependia exclusivamente de seus esforços.

Os italianos dessa época não mantinham o esplendor cultural de outrora; estavam divididos entre vários pequenos países independentes e rivais e, por esses fatores, com grande parte de sua população em situação de bastante dificuldade econômica.

Com todo esse sofrimento, entre pobreza, divisão e guerras, a população italiana das décadas de 1860 e 1870 sentia muita dificuldade de sobrevivência em sua própria terra. Por isso, acabaram cedendo às campanhas de emigração fomentadas por países em ascensão, entre o Novo Mundo (as Américas) e o novíssimo Mundo (Oceania); para onde acabaram partindo, sem muito saberem como eram e como iam ser recebidos e adaptados nesses novos países.

No caso específico os italianos que migraram para o Brasil, a partir de 1875, foram estimulados pela Imperatriz Tereza Cristina, esposa do Imperador brasileiro Dom Pedro II (italiana de nascimento). Da mesma maneira como em gerações anteriores, os alemães chegaram, a partir de 1824, estimulados pela Imperatriz Leopoldina, esposa do Imperador Dom Pedro I (nascida na Áustria e, portanto, de cultura germânica).

Baseados nos dados do Padre Luizinho, podemos lembrar o seguinte:

“Movidos por dificuldades econômicas, por perseguições políticas ou religiosas, ou simplesmente pelo desejo de aventurar-se pelo mundo, muitos europeus partiram para a América em busca de uma vida mais promissora. Dentre os italianos, o que mais pesava eram as dificuldades relacionadas com a pobreza e as guerras.”

Os agentes de imigração faziam uma estratégica propaganda para a imigração, financiados pelos governos interessados e pelas companhias de colonização e de navegação. Sem um controle do governo italiano e interessado em recrutar o maior número de “cabeças”, pintavam a imigração como um passaporte para o céu.

Havia também um grupo contrário à imigração, como os proprietários de terras e empresários, que viam fugir a mão de obra que exploravam; certos párocos que viam suas paróquias seculares ficarem desestruturadas pelo esvaziamento demográfico, e parlamentares da oposição, que buscavam uma legislação mais restrita ao êxodo. Usavam folhetos para dissuadir os “iludidos”, como definiam os imigrantes: “não abandonem a pátria”, “não vá ao Brasil”, “no Brasil se morre” …

Porém, diante da incomparável vantagem, as forças contrárias que vimos acima, tiveram pouco sucesso. A correspondência trocada entre os que já haviam se atirado no “salto no escuro” da imigração e os que permaneceram também, consiste num fator de influência.

Com a vinda dos imigrantes para o Brasil, percebeu-se que os imigrantes não falavam a língua italiana padrão, mas sim uma língua semelhante que, embora não se fale mais o vêneto primitivo, é uma língua latina de padrões semelhantes às línguas do sul da França. A língua padrão só era usada para ocasiões formais.

A região da Itália de onde primeiro vieram, foi do Vêneto, que se dividia em sete províncias, dentre as quais, a crise era maior na de Vicenza, Treviso e Verona, pois ali, começou a se desenvolver a industrialização. Os agricultores que complementavam sua renda com o trabalho artesanal ficaram sem emprego e sem ter mercado para colocar seus produtos, que não podiam competir com os feitos pelas fábricas locais ou com os importados.

Por isto, o norte da Itália forneceu as primeiras grandes levas de emigrantes. A imigração vêneta se concentrou no Sul do Brasil, palco para a criação de colônias rurais isoladas quase sem comunicação.

Por viverem, de certa forma, isolados na zona rural, esses italianos e descendentes foram o único grupo que conseguiu manter o idioma vivo no Brasil, falado atualmente por alguns milhares de brasileiros. Esta língua rara, contudo, sofreu forte influência do português, e manteve expressões que desapareceram na Itália. Para diferenciá-lo, utiliza-se hoje o nome talian.

Os primeiros colonos que chegaram no Rio Grande do Sul escreviam para suas famílias e amigos, contando as vantagens que encontraram na nova terra. E muitas vezes, omitiam as dificuldades. Assim, atraíram novos imigrantes e por isto muitos dos que vieram para cá são das mesmas localidades e até das mesmas famílias. Calcula-se que, entre 1875 e 1914, entraram no estado entre 80 e 100 mil italianos.

As colônias criadas foram: Colônia Caxias que deu origem a Caxias do Sul, Flores da Cunha, Farroupilha e São Marcos; Colônia Dona Isabel que formou Bento Gonçalves; Colônia Conde D’Eu que originou Garibaldi e Carlos Barbosa; Colônia Silveira Martins que deu origem as cidades de Silveira Martins, Vale Vêneto, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine e Santa Maria.

A colônia de Silveira Martins recebeu este nome em homenagem ao senador gaúcho Gaspar Silveira Martins, um político que defendia a imigração. Mais tarde em 1877, passou a se chamar quarta colônia de imigração, pois foi a Quarta Colônia Imperial de Imigração Italiana, a quarta área onde foram distribuídas terras para os italianos que imigraram no final do século XIX para o Estado. Aqui é o primeiro reduto de Imigração fora da Serra Gaúcha.

A família Piovesan que veio para a quarta colônia.

Segundo Pistóia (1999), a história mais remota das raízes da árvore genealógica da família Piovesan, tem origem nos montes Vêneto da região norte de Verona, onde se encontram um pequeno povoado chamado Piovezzano, distante cinco quilômetros e meio das margens do poético Lago de Garda Benaco. Essa hipótese de o clã provir da península vem colaborando pela fisionomia, cor do cabelo e dos olhos dos descendentes que ostentavam considerável carga de sangue germânico.

No entanto a família de Giuseppe Piovesan saiu da região do Vêneto, que fica situada no nordeste da Itália, fora da Península Itálica onde se localiza o contorno norte do mar Adriático (uma vasta planície entre os Alpes e a Laguna Veneta, onde estão as ilhas da cidade de Veneza e arredores).

Em Santa Cristina, moravam no segundo piso de uma casa, onde, no térreo criavam ovelhas. “As casas eram construídas umas ao lado das outras, com falta de luz e pouca ventilação, os hábitos de higiene eram escassos e o lixo se acumulava nas ruas estreitas. As casas dos mais pobres eram construídas de duas peças, acrescida de uma estrebaria. Quando os invernos eram muito rigorosos, era costume passar todo o tempo junto aos animais, para poder se aquecer. Com isso a saúde, em contato com o bafo dos animais torna-se precária” (Righi, 2001).

“A alimentação era pobre, baseada exclusivamente em cereais e hortaliças com alguns produtos derivados do leite. A polenta constituía a base do almoço e era sempre acompanhada de nabos, batata, feijão e repolho. O peixe era escasso, o mesmo ocorrendo com as bebidas, exceto os vinhos” (Righi, 2001).

Da mesma forma que várias famílias da região do Vêneto, Guiseppe Piovesan, viúvo, decidiu vir para o Brasil. Juntamente com os filhos: Luiggi (25 anos) com sua esposa Elizabetha (25 anos) e seu filho Giuseppe Neto (com seis meses), Ângelo (18 anos), Luiggia (16 anos), Giovanni Marco (14 anos), Ângela (12 anos) e Maria (9 anos).

Vapor ADRIA da Adria Hungarian Royal Maritime RT que fazia transporte marítimo na época.

Zarparam em 21 de dezembro de 1887, do Porto de Genova, Embarcaram no Vapor Adria e chegaram em Ilha das Flores no Rio de Janeiro em 15 de janeiro de 1888, dali saíram em 10 de fevereiro de 1888 rumo ao Rio Grande do Sul (o estado de posição mais meridional do Brasil). Ficaram 26 dias no Rio de Janeiro à espera de sua bagagem que havia sido extraviada.

Foram então aconselhados a prosseguir viagem chegaram a Porto Alegre (capital do Rio Grande do Sul) em 19 de fevereiro de 1888. Sobem o Rio Jacuí até a margem do Rio Taquari onde apanham um trem até a estação colônia, hoje chamada Camobi. Com o transporte muar (transporte com mulas de carga) do governo sobem até Silveira Martins e se alojaram em barracões, que eram depósitos de imigrantes junto à praça da comissão de terra dessa ex-colônia.

Os primeiros tempos foram muito difíceis, então Giuseppe e seus filhos mais velhos foram trabalhar como assalariados, na abertura de novas estradas, na ocasião abriam uma nova trilha desde o “Passo Velho”, onde confluem o Rio Soturno e o Lajeado Melo até o vilarejo Barracão. O restante da família fazia biscates ou pedia esmolas em Silveira Martins. Para matar a fome, buscavam algumas aboboras cultivadas pelos caboclos na beira do rio.

Terminando a abertura da estrada até o Soturno, Luiggi e Ângelo acompanhados do adolescente Giovanni Marco, foram para as bandas de Silveira Martins onde retiravam das matas dormentes para a estrada de ferro, na empresa dos Cauduro.

Em dois de março de 1888, uma triste notícia vem abalar o lar de Giuseppe, sua filha mais nova, Maria com nove anos e cinco meses, que havia engordado com os ares da América, misteriosamente foi vítima de morte súbita.

Em 15 de março de 1888, quando a estrada alcançou a localidade de Soturno, Giuseppe apressou-se para que a família viesse morar em Soturno (Nova Palma), junto as margens do Rio Portela, sobre o lote nº 01 do povoado que ainda estava sendo projetado. Logo após se mudaram para outro lote, o da família Rigon n° 137 e finalmente Giuseppe compra o lote n° 141, onde construiu seu primeiro casebre em meados de abril de 1889 e seu filho mais velho adquiriu o lote n° 88. O lote n° 141 ficou com a família até o ano de 1958, quando foi vendido para terceiros.

Segundo relatos de Carlos Crestanello Piovesan que viveu na casa construída neste lote, essa foi construída de pedra de areia e coberta com tabuinhas feitas das árvores que derrubaram para abrir o mato fazendo uma clareira para construção da casa, uma vez que ali no lote n° 141 só havia mato.

Esta casa era separada havia a cozinha e a sala e também uma oficina onde faziam baldes, portas, ou seja, móveis em geral e em cima no sotão colocavam grão para secar como milho, trigo, feijão, etc.

Os padres começaram a suas práticas religiosa nesta região, em meados de 1889. Vindos de Vale Vêneto (distrito pertencente à cidade de São João do Polêsine), eram acompanhados por Giuseppe, que ajudou muito com seu dom para ensinar, tanto como catequista como professor. Ele ajudava os padres a preparar as crianças para a primeira comunhão, batizar quando necessário, encomendar os mortos ou assistir moribundos, assim como puxar cantos e terço aos domingos.

Muito atuante e sério com as questões religiosas, por longos anos ajudou os padres na catequização. Às vezes quando os padres não podiam vir por causa de enchentes ou outro motivo qualquer, Guiseppe tomava a frente nos trabalhos religiosos.

Depois de longos anos, Giuseppe já doente e cansado da labuta foi morar com seu filho Luigi na linha Soturno. Ainda por algum tempo conseguiu cumprir com suas obrigações religiosas, mas por causa do rigor do inverno e da distância parou de frequentar aos trabalhos religiosos, seu corpo já estava no limite. Faleceu em 09 de setembro de 1909 às 19 horas Giuseppe.

Giovanni Marco o quinto filho de Giuseppe e Antônia Parizotto, completou o curso fundamental ainda na Itália, era muito inteligente, mas não completou os estudos no Brasil, por falta de escola em Nova Palma onde se estabeleceram.

Para garantir o sustento da família Giovanni e seus irmãos por muito tempo trabalharam na mata tirando dormentes para a estrada de ferro ou extraindo madeira para a comercialização e construção de casas. Ficavam, às vezes, dias longe do lar dormindo e comendo mal, no meio das matas.

Mais tarde com a vinda do fumo para a região houve a necessidade de construir galpões para abrigar os produtos colhidos, então Giovanni e seus irmão começaram cada vez mais a construir galpões e casas. Saíam na segunda e voltavam aos sábados.

Em suas idas subindo e descendo as serranias de Geringonça, hoje Novo Treviso, Guiseppe ficou fascinado pelo coro que ali se formava na casa dos Buzanello. Regido a partir de partituras, notas, compassos e instrumentos, executando magistralmente canto sacro e profano.

Pediu a seu filho Giovanni Marco que fosse participar dos ensaios semanais e noturnos. Mesmo naquela distância, mais de vinte quilômetros, com estrada coberta por florestas subtropical e animais selvagens, o jovem de 20 anos perseverou tornando o Clã dos Piovesan até hoje famoso como cantores e músicos.

 

Por sua dedicação presentearam ao jovem Giovanni um diapasão que usou como diretor no coro sacro da Igreja Matriz Santíssima Trindade de Nova Palma – RS até sua morte em 10 de dezembro de 1953. Seu filho Antônio tomou seu lugar tanto no canto como na maestria e após sua morte seu filho Pio tomou o lugar. O legado de Giovanni Marco do canto é perpetuado por seus netos e bisnetos até os dias atuais.

Esta é a última foto que temos de Giovanni Marco

Giovanni Marco casou-se com Roza Rossato, em 30 de abril de 1895 e deste enlace teve nove filhos; José, Ângelo, Antônio, Valentim, Augustinho, Maria Giusipina, Guido, Francisco e Benjamin.

Roza faleceu em 1910 ao dar à luz a Benjamin. Viuvo, casou-se novamente com Apolônia Furgiarini e teve os filhos; Rosa, Constantino, Agnese, Eugênio e Antônia.

Giovanni Marco passou muito trabalho para criar sua numerosa família, principalmente quando perdeu sua primeira esposa ficando com nove crianças pequenas. Mas como levava sua religiosidade muito a sério conseguiu vencer todas as dificuldades, e com o crescimento dos filhos mais velhos estes ajudavam a prover o sustento da família, trabalhavam muito com madeira, o que mais tarde tornou-se o principal ofício de alguns de seus filhos, em especial Guido, Antônio e Valentim.

No final do ano de 1952, Giovanni sofreu um acidente quando estava cortando um galho de árvore de plátano, ao apoiar-se mal, caiu de uma altura de mais ou menos dois metros ferindo-se de maneira grave internamente, vindo a falecer em 10 de dezembro de 1953.

Neste vale ficavam as terras de Giovanni Marco Piovesan

Neste vale ficavam as terras de Giovanni Marco Piovesan

 

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